Esta Velha Angústia - Alvaro de Campos

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010


Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


gostamos de achar que mudamos,
mas não mudamos, de verdade. (Duma Key - Stephen King)


com o tempo eu ia mergulhando nessa rotina e como na maioria das rotinas,
eu ia me entediando, querendo mudar, querendo fazer planos que eu nunca iria concluir, mas gostava da sensação de ter um plano B.
eu ia anotando o que fazia sentido sobre as coisas que eu via, no meu bloquinho
as vezes, anotava coisas sem sentido também.
escutar os sonhos das pessoas, os acrescentavam a mim
mas não os tornavam meus, de fato.
mas a minha moeda passou a ser os sonhos
uns grandes outros nem tanto.
mas sonhos não são medidos em régua, e sim em faz de conta.
a sensação de que eu estava mudando era falsa, isso eu sabia lá no fundo
só depois que percebi que na verdade, eu amadurecia.
mas as vezes, ainda me sobravam umas birras de criança;
batia o pé, chorava, respondia, teimava e não me aquietava.
eu vivia achando que eu era predestinada a algo realmente grande
mas a vida sempre me empurrava pra uma direção contrária, estranha
ter meus bons amigos e ser feliz como prioridades, foi um jeito que eu encontrei
pra aceitar a vida mais passivamente
quando ela, de fato, teimava em me deixar no chão
e nunca me arrependi dessa escolha;
eu não poderia viver sem meus amigos
porque eu não poderia viver sem coração.
acho que esse foi "o meu jeito de ficar para sempre, aqui na Terra
porque verdades, se distorcem
e mudanças, passam."

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


Tomo menos milk-shake e levo uma vida diária vazia e agitada. Passo o tempo todo pensando - não raciocinando, não meditando - mas pensando, pensando sem parar. E aprendendo, não sei o quê, mas aprendendo. E com a alma mais sossegada (não estou totalmente certa). Sempre quis “jogar alto”, mas parece que estou aprendendo que o jogo alto está numa vida diária pequena, em que uma pessoa se arrisca muito mais profundamente, com ameaças maiores. Com tudo isso, parece que estou perdendo um sentimento de grandeza que não veio nunca de livros nem de influência de pessoas, uma coisa muito minha e que desde pequena deu a tudo, aos meus olhos, uma verdade que já não vejo mais com tanta freqüência. Disso tudo, restam nervos muito sensíveis e uma predisposição séria para ficar calada. Mas aceito tanto agora. Nem sempre pacificamente, mas a situação é de aceitar."


Clarice
Lispector.

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2010!

domingo, 3 de janeiro de 2010


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