carta ao desespero (do amor)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009


acordei e estava aqui nesse quarto escuro, pela fresta de uma janela passava um pouco da luz do sol; estiquei o braço e peguei o relógio em cima da criado mudo e já eram 11 da manhã, nem tinha me dado conta de que tanto tempo já havia se passado...
não lembrava de quase nada da noite passada, minha cabeça girava ainda, meu estômago embrulhado por causa do álcool e aquele típico cheiro de cigarro entre os dedos. quando olhei pro lado, você estava lá e eu nem lembrava como você havia chegado aqui.
levantei e fui ao banheiro me deparar com meu reflexo e aos poucos voltei a me lembrar de algumas coisas, nada muito nítido.
as lágrimas regadas ao som da tua voz
minha tristeza contrastando com tua risada
com tua vontade de viver e de ainda me ver passar por ai
"sendo feliz ninguém pensa no que pode vir", foi isso o que eu pensei
"é o risco que corremos";
já andamos tanto nessa estrada, já vivemos e revivemos uma história de amor perdido
conheço teus segredos, seu jeito e até seu terror, e de um modo inconsciente, não consigo parar de pensar no que vai vir...
e se acordar e dizer que me ama, teria eu coragem de voltar? de confiar? de me entregar? e se continuar calado como quem espera por um fim, teria eu forças pra sorrir novamente?
amor, você não está me entendendo, tudo o que eu digo, aos seus ouvidos soa o contrário. tem alguma coisa errada, mas eu não sei o que é, eu te amo, mas eu não te quero. você não está me entendendo, mas fique mais um pouco, pode continuar dormindo, pode levantar e pegar uma cerveja na geladeira, nem precisa me dizer nada, pode continuar assim, calado, que o nosso silêncio também é bom. como posso negar que amor grande eu já tive e persiste, persiste. mas o grande amor, creio que ainda está por vir. o silêncio do teu quarto me apavora, você tá dormindo no meu lado e nem faz idéia de todas as perguntas que estão se passando pela minha cabeça. a palavra "amanhã" me dá ânsia. acho que tenho saudade da minha vida antes de te conhecer, sempre feliz, sempre forte e tolerante. hoje eu sou feita de desespero.te ter é só uma promessa que a vida não consegue cumprir.e agora eu nem quero mais.
me arrumei, vesti minhas roupas com cuidado pra não te acordar, eu não conseguiria dizer adeus. fui saindo devagar, sem medo, fui indo pelo caminho que trouxessa minha vida de volta. nao quero amar, nao quero sofrer, nem achar graça, nem sair por ai sorrindo da vida..não, não. pra mim?
depois desse furacão que passou pela minha vida, agora, apenas quero sentir nada.


(15 de março de 2008)

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