sábado, 29 de agosto de 2009


Era cedo ainda quando a campainha tocou. Acordei assustado e fui na porta, quando olhei pelo olho mágico, olhei ela com o cabelo desarrumado, batom desbotado, olheiras enormes. Achei estranho, pensei logo que pudesse ter sido assaltada, ou algo assim. Abri logo a porta e ela veio correndo me abrançando. Eu perguntei o que ela tinha e ela me disse aos prantos que havia traído o namorado, que se sentia envergonhada, essas coisas de praxe. Não sabia o que fazer, se contava pra ele, disse que havia brigado com ele na noite anterior, saiu com as amigas e acabou dando nisso. Eu tentei acalmá-la, perguntei se não queria tomar um banho e ela aceitou, mostrei onde ficava o banheiro e a deixei por lá tomando banho, recuperando um pouco da vergonha.
Foi estranho sentir aquilo, mas parecia mais que eu que era o homem traído, senti raiva, chamei ela de vagabunda centenas de vezes no meu pensamento enquanto esperava ela sair do banho. Eu era apaixonado por ela já faziam dois anos e ela não sabia disso ou fingia muito bem. Namorava o meu melhor amigo e agora está tomando banho no meu banheiro, veio pedir consolo pelo desfeixo do namoro. Ela não sabia, claro..
Mas ele havia me confessado que não a amava mais, que a mantinha do lado dele por conforto, afinal, um namoro de dois anos e tudo mais. Acho isso triste..só triste. Mas muita gente é assim, em busca do conforto acaba se acomodando em uma situação dilacerante.
Essa traição agora, sem mais nem menos, só daria um motivo pra terminar uma coisa, que já estava amassada. Não me entendam mal, eu nunca quis o mal dos dois ou fiquei torcendo pra terminarem, nada disso, muito pelo contrário, sempre torci pela felicidade deles, mas do que pela minha, caso contrário não continuaria do lado deles até hoje, escutei os dois lados, tentando fazer os fazerem as pazes quando possível, aconselhando...o meu amor por ela ficou pra segundo plano, só pensava nela como amante quando dava, quando não conseguia mais evitar. Na maioria das vezes eu era obrigado a vê-la como a amiga querida, a namorada do meu melhor amigo, essas coisas.
Quando ela saiu do banheiro, estava usando uma blusa minha. Sentou na cama ao meu lado e ficou de peito pra cima olhando o teto junto comigo.
- Quero um café. Foi o que ela disse. Eu levantei, fui até a cozinha e peguei café pra nós dois.
Ao voltar pro quarto, ela já estava fumando seu Malboro e continuava deitada olhando pro teto.
Eu sentei do seu lado e ela levantou, os cabelos estavam bagunçados e ela estava com aquele cheiro que eu adorava, uma mistura de perfume com cigarro! Ficamos tomando café e esperei ela acabar de fumar, aí então ela começou a contar o que havia acontecido. Disse que havia sido uma transa sem importância, conheceu o cara na boate, as amigas incentivaram e ela acabou levando ele pro banheiro da boate e deu pra ele ali mesmo. Depois se sentiu suja, uma prostituta, quer dizer, nem isso...porque se fosse uma prostituta ao menos teriam pago ela pelos serviços prestados, mas não, ela só sentiu vergonha, muito vergonha. Trocar um namoro de dois anos por uma transa no banheiro. Falou que ligou pra ele quando estava amanhecendo e contou tudo, eles terminaram naturalmente.
- Mas o estranho é que agora, eu não me sinto tão culpada assim. Me sinto aliviada, como se tivessem tirado um fardo das minhas costas.
- Você não o amava mais.
- Claro que amava, mêo. Tava com ele há tanto tempo..
- Isso não foi uma pergunta.
Nós nunca sabemos que rumo nossas vidas podem tomar, quando perdemos as rédeas e deixamos as condutas de lado, temos a sensação de presenciar uma liberdade nunca antes sentida. Mas a verdade é que sempre esteve ali. Nós nunca sabemos o que sentimos de verdade por alguém, até um dia, darmos pra uma cara dentro de um banheiro de boate. Foi isso que ela precisou pra perceber que não o amava mais. Parece estranho, mas o amor se transformou em fardo.
Eu não falei isso pra ela, claro. Ela ficou calada por alguns segundos e tenho certeza, pela cara que fez, que era isso que ela estava percebendo.
- Não há mal nisso né?
- Dar pra um desconhecido no banheiro?
- Não. Tô falando, de não amar mais ele?
- Isso acontece...
- Hum.
Ela levantou e disse que precisava ir embora. No meio do caminho foi tirando logo minha blusa e eu fingi não estar olhando pra sua bunda. Colocou o vestido usado, apareceu na minha frente e me deu um beijo no rosto e agradeceu por tudo. Foi sozinha mesmo pra porta, eu fiquei na cama...e vi que ela havia esquecido os cigarros, eu não era muito de fumar, mas achei que aquela ocasião pedia um cigarro. Fiquei deitado olhando pro teto fumando, escutando o barulho dos carros. Estava quase pegando no sono, quando a campainha tocou de novo e eu fui lá atender, nem olhei pelo olho-mágico. Quando abri vi ela parada na minha frente, estava ofegante, paralisada , eu perguntei se tinha acontecido mais alguma coisa. E ela disse que sim.
- O que aconteceu?
- Eu sei que você vai achar estranho...Mas eu te amo.
- Desde quando?
- Desde agora.





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