sábado, 8 de agosto de 2009


querido,
tenho que te dizer e vou ser logo breve:
amanhã vou estar em algum lugar ao longe..
com os meus sonhos quebrados dentro do bolso, algum lugar onde as estrelas possam brilhar mais..é. porque a vista de longe é mais agradável. nós somos já uma obra de arte antiga, de longe é linda, perfeita, mas quando se chega perto, dá pra ver as rachaduras, as imperfeições.
e eu não sobreviveria com nossas imperfeições. então prefiro me manter longe e um dia olhar pra trás e pensar que estive tão perto da perfeição, uma vez.
eu não vou estar aqui e não sei como você se virará sem mim..
eu me manterei forte, pra mim saudade é só questão de ocupação.
ah, mas deixa disso..
pegue um martini, sente-se na sua poltrona favorita e sinta-se à vontade!
porque eu me sinto confortável nessa situação.



(ANTES)
foi uma noite memorável..
a primeira vez que peguei meu carro e saí pra dar uma volta na cidade. acendi meu cigarro e saí por ai, fui na praia e estacionei o carro. era uma noite quente de segunda-feira, noite de lua minguante, de céu aberto. eu estava ali sozinha, apreciando a vista, só ouvia o barulho do fogo queimando meu cigarro, pensamento vazio.
até que fechei os olhos.. que grande erro!
nunca feche os olhos assim numa segunda-feira de noite quente;
tá, confesso que pensei em nós dois por uns 10 segundos, mas foi o suficiente.
desde que você partiu a uns 5 anos atrás eu não me permito mais fazer isso. não que não tenhamos tido momentos importantes, palavras bonitas..mas é que quando eu penso, alguma coisa dentro de mim estala e fica doendo.
você não está mais aqui, sempre me lembro disso quando o pensamento fica um pouco saliente.
se não está aqui, como posso sentir o frescor de um calor que não existe?
no primeiro ano de sua partida eu era uma estranha pra todos os meus conhecidos. todos me perguntando se eu estava bem, se eu queria conversar a respeito..
mas a verdade, é que o bilhete que você deixou sobre a cama antes de ir, sempre estava guardado no bolso da calça que eu usava. a única explicação que tive durante esses CINCO anos.
eu chorei pra mim mesma, não fiz um barulho sequer, não gritei, não fiquei incorformada, não fui atrás de você, não liguei; guardei tudo pra mim e tentei manter o pensamento longe..até de mim mesma, as vezes.
depois do primeiro ano resolvi mudar, resolvi seguir em frente e acredite..eu consegui. mas quando estou sozinha, quando meu namorando não dorme aqui em casa ou numa pausa do trabalho, ou mesmo em noites quentes como essa..ah, meu pensamento ainda teima em perguntar aonde você está. Aonde?


eu fui embora sem dizer adeus. te deixei dormindo, estava com uma cara feliz, acho que estava tendo um sonho agradável...
deixei um bilhete em cima da cama, pedi desculpas, mas precisava ir embora agora, antes que teu amor tomasse conta de mim. como pude?
enquanto todos estão procurando amor pelas ruas, eu tinha o meu deitada ao meu lado e fui embora assim. por medo de amar demais.
não me arrependo. era jovem e achava que precisava viver, experimentar as emoções da vida..mas esqueci que viver também conjuga o verbo amar.
viajei por vários lugares, índia, china, estados unidos, londres..um dia, estava em buenos aires em um bar quando começou a tocar nossa música: "I can't do the talks, like they talk on the TV. And I can't do a love song, like the way it's meant to be. I can't do everything, but I'll do anything for you.I can't do anything 'cept be in love with you. And all I do is miss you and the way we used to be; all I do is keep the beat, and bad company and all I do is kiss you, through the bars of a rhyme. Juliet I'd do the stars with you, anytime."
seria hipocrisia de minha parte dizer que não deixei de pensar em você, porque eu deixei. eu deixei você de lado ao ir embora da nossa casa, ao bater a porta eu prometi pra mim que tinha encerrado esse capítulo. que tolice a minha..acha que eu poderia esquecer quem só me deu amor, quem dedicou a vida à mim. que tolice...mas eu era jovem demais pra amar de verdade. eu vivi, estive com outras mulheres, me apaixonei algumas vezes e tive esperança de estar no caminho certo. até esta noite..
quando tocou nossa música, lembrei de você e me veio um calor..um calor que vinha de dentro e se espalhava por todo o meu corpo..e então eu lembrei que esse calor se chamava amor, que era assim que eu me sentia quando lembrava de você ao longo do dia. eu disse que te amaria até eu morrer, mas acredite, que só foi o tempo que errou conosco. eu estive fora por muito tempo, mas achei que agora seria a hora de voltar..
arrumei as malas e lavei a cara.
peguei o primeiro vôo pro Rio de Janeiro.
ao chegar liguei pros nossos amigos em comum e descobri onde você estava morando e fui até lá. coloquei a melhor roupa, me perfumei, não preparei nenhuma explicação.
quando estava na sua porta pensei em desistir, afinal você poderia estar com algum namorado, uma visita, alguém da família, ou mesmo, só ocupada.
mas respirei fundo..
tirei uma coragem que nem eu mesma sabia que tinha e bati na porta.
você atendeu...e estava linda. não mudou nada, os mesmo olhos, rosto corado, cabelo liso só que agora um pouco mais curto, está bronzeada de praia. linda!
"desculpa" foi a única coisa que eu pude dizer. e silêncio.
você olhava pra baixo e quando levantou os olhos apenas uma lágrima caiu e então disse: "eu pensei que você nunca fosse voltar pra me buscar". me abraçou e eu te levei pra dentro, na minha cabeça estava tocando nossa música e minhas mãos percorriam todo o seu corpo. foi então que percebi, que mesmo tendo estado em lugares incríveis, bom mesmo é voltar pra casa. e foi assim que aconteceu...uma noite memorável!
e eu sabia que não nos separaríamos.

(DIA SEGUINTE)
querido,
tenho que te dizer e vou ser logo breve:
quando acordar, eu não vou mais estar aqui.
vou estar em algum lugar ao longe..
com os meus sonhos quebrados dentro do bolso, algum lugar onde as estrelas possam brilhar mais..é. porque a vista de longe é mais agradável. nós somos já uma obra de arte antiga, de longe é linda, perfeita, mas quando se chega perto, dá pra ver as rachaduras, as imperfeições.
e eu não sobreviveria com nossas imperfeições. então prefiro me manter longe e um dia olhar pra trás e pensar que estive tão perto da perfeição, uma vez.
eu não vou estar aqui e não sei como você se virará sem mim..
eu me manterei forte, pra mim saudade é só questão de ocupação.
ah, mas deixa disso..
pegue um martini, sente-se na sua poltrona favorita e sinta-se à vontade!
porque eu me sinto confortável nessa situação.
Adeus.

Postado por d. @ 0 comments