A gota

sexta-feira, 4 de abril de 2008


Lá vem a gotinha tão pequenina caindo do céu. Ela não gosta quando a acordam no susto de um trovão. É a sirene avisando que tá na hora do seu trabalho.
- Bum! Bum! Bum! - avisa o trovão.
E lá vai ela, põe seu pára-quedas e sai de sua casa feita de algodão, sabor doce.
Ela olha pro céu e pensa: - Hum, quintal cinza não é bom sinal. Hoje vai ser um longo dia de trabalho.
Então começa a sua jornada.
Os primeiros 50 metros são estáveis e ela fica aproveitando a vista privilegiada que tem lá de cima. Mas quando vai se aproximando começam as turbulências, o vento carregando, outros pingos caindo rápido demais, e ela só deseja não cair em uma poça que nem a vez passada, onde ela foi diminuída de seu cargo, pisada, pisada, jogada, jogada. Os homens são cruéis com as gotas.
Vem chegando cada vez mais perto e avista vários carros. É a Avenida Paulista em mais um dos seus engarrafamentos, km e km de homens dentro de um pacote feito de ferro.
- Para se protegerem de mim ? Mas que mal eu posso fazer ? Eu sou só uma gota e quando eu encosto na pele eu alivio a consciência, molho, mas também faço secar. - pensa a gotinha, magoada por ser destratada.
-ALI! - avisa o vento.
E lá vai a gotinha cair na janela de um carro, ela olha para dentro, há uma criança, ela sorrir. A criança põe o dedo no vidro e faz cosquinha na gota e ela dá uma gargalhada e a criança também sorrir.
- Vou passar de você, vou passar de você - avisa uma outra gota vindo rápido na sua direção. A gotinha então corre, corre muito e logo ultrapassa a outra gota e como prêmio ganha o sorriso da criança. Ainda há humanos que gostam de gotas.
Troveja de novo, fim de espediente. Ela coloca o sorriso no bolso e volta para casa. Sabor, doce.

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